Ontem falei com você e era como se eu estivesse ouvindo uma música que eu gosto muito, mas sempre que toca, eu passo. Você já me arrasou tantas vezes, mas eu sempre me recuperei rápido demais porque não temos intimidade para os meus dramas ( e também porque eles são divertidos demais para a situação em questão)
Temos um amor pequeno e desnecessário que faz bem só quando a vida real toca a nossa pele e azula nossos sonhos. Quando os acordes das músicas que não gosto ondulam nossas respirações. Quando o aparente dos outros não é nada além de algo que não é da nossa conta.
Botas de camurça recebendo os chuviscos. Mãos dadas. Anéis de prata. O sol já se pôs, mas o dia ainda está quase claro, como nossas intenções. Se eu te disser que não gosto de joguinhos, será que você entende? Esse músico ironicamente, não se toca. As mesas dos bares já estão nas calçadas para esperar os adultos que ainda estão meio perdidos. Apresso meus passos porque não quero me sentar.
Eu sei que o único futuro amor dele no momento, sou eu. E esse momento é tão específico, que sempre acaba quando ele me deixa em casa, e eu me despeço seguida da mão que despenca fazendo sinar minhas pulseiras como alerta de que o amor acabou. Como se estivéssemos juntos há décadas, com filhos e netos, e um dos dois se despedisse para poder nascer de novo.
Segundas intenções, elogios, trocas secretas de mensagem. Nunca é o que eu tô pensando, você me diz. Eu concluo que de fato devo estar mais perdida do que pensei, pois na minha infância acreditei que minha imaginação fértil criaria filmes, livros, canções e sorrisos, mas anda apenas servindo de álibi para bons jogadores.
As pessoas furiosas e com cheiro de mogno, se iluminam no breu com a vida que os outros querem aparentar que tem. A comida está esfriando. Eu faço você rir. Só existe nós dois um para o outro, nesse momento. Celulares ignorados. Você segura minha mão, e me olha como se não quisesse me deixar. Como se a minha cor iluminasse tudo o que há de bom em você. Baunilha e canela. O casal ao lado nem se olha nos olhos. Só se falaram para tirar uma foto. Nós somos reais, por esta noite.
Paramos o carro perto do prédio, ligamos o som, tiramos os sapatos, descemos com o pé no asfalto.Dançamos divertidos, girando em sentido contrário ao da Terra. Meu passo é atrás, eu vejo seus olhos, e é amor.
Um amor bobo em tom pastel. Um amor pra preencher o que já está completo. Um amor que não faz questão de continuar. " A gente aceita o amor que acredita merecer." A música parou e fomos obrigados a ouvir o silêncio por traz do nosso interminável assunto. Com alívio de expiro eu disse, acho melhor a gente não se ver mais. Espantado, ele disse, ué, porque?
Jaqueta: Forever 21 Orlando / Blusa : Forever 21 Brasília / Calça : C&A / Tênis Bull Terrier / Batom : Misturinha - N9 Make up forever + Sinfonia intenso Contém 1g
Fotos: Renata Oliveira